O desafio da empatia é ir até o outro e depois voltar para o próprio lugar

Um tempo atrás, quando eu fazia conteúdos de redes sociais para uma empresa de cuidadores de pessoas, me deparei com uma palestra no Youtube que me chamou atenção e fez muito sentido pra mim.

“Cuidando de quem cuida”, é um vídeo da palestra de Ana Claudia Quintana Arantes, médica especializada em Geriatria e cuidados paliativos.

O trecho que me fez pensar muito sobre como cuidar de mim antes de pensar em ajudar outras pessoas está transcrito a seguir (em 1h02’26”).

“Um cuidador tem uma grande capacidade de se colocar no lugar do outro. Isso é o exercício da empatia. A metáfora que eu uso para explicar essa capacidade de ir ao encontro do outro é a seguinte:

Suponha que você tenha no seu carro uma autonomia para 100 quilômetros no tanque de gasolina. Se você sair de casa e andar 100 quilômetros, o que acontece? Você não volta para casa. Este é o grande desafio da empatia. Eu tenho de ir até o seu lugar e gastar a metade da minha força, porque eu tenho de voltar para o meu lugar. Senão eu vou até o seu lugar e fico aí. Nunca mais eu volto para a minha vida.

Então “ah, eu sempre me coloco no lugar do outro” ou “eu trabalho com pessoas no fim da vida, idosos dependentes, abandonados pela família, eu olho e falo ‘coitados’. Não tem nenhum problema na minha vida perto dos problemas que eu vejo todos os dias”. Mas aí quando eu faço isso, eu não olho para os meus problemas, e eles vão ficando grandes e vão enchendo a minha vida, afinal de contas, a minha vida é muito melhor do que a vida das pessoas que eu estou cuidando. E até que um dia a minha vida fica muito pior do que a delas. Porque eu não voltei pro meu lugar.

Então eu tenho de cuidar da minha mãe, mas tenho de saber que eu sou eu, não sou só filha da minha mãe. Esse processo de autoconhecimento, de saber qual é a minha autonomia, até me permite andar mais do que 100 quilômetros. Eu posso exagerar um pouco de vez em quando, mas se eu sei que eu vou até aí e vou gastar 150 quilômetros pra ir até aí, eu tenho de saber onde eu abasteço no caminho.

Então, para eu chegar até o seu lugar, eu tenho de parar para jantar fora, eu tenho de pintar, eu tenho de ir na ginástica, eu tenho que tomar um banho, eu preciso ir ao médico. Eu preciso encontrar, ao longo desse caminho de ir até você, espaços que permitem que eu chegue aí inteira.

Porque se eu chegar pela metade, eu não aproveito e eu também não cuido direito.

(…)

A gente só cuida direito de alguém com o mesmo empenho que a gente cuida de nós. Senão isso é um ato de hipocrisia, e não de doação. É fazer pelo outro aquilo que você não faria por você, já que você não se responsabiliza por si mesmo, você não encontra espaços mínimos de autocuidado.

(…)

Quando você começa a espalhar que você faz mais pelo outro do que por si mesmo, você está dizendo pra todo mundo que você não está valendo grande coisa. Afinal, se você não dá valor para si mesmo, por que é que alguém vai dar?”

O vídeo inteiro é muito necessário:

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