Formas positivas de conversar com alguém que está com problemas

A experiência do luto, a doença de um ente querido e a perda do emprego são algumas das situações que afetam significativamente nossa vida e a saúde emocional, dentre muitas outras que estão mais presentes em nosso cotidiano por conta da pandemia do coronavírus.

Falar sobre tais questões nos ajuda a elaborar melhor os sentimentos e a sair de estados de tristeza e apatia. Para isso, é necessário que o ouvinte esteja preparado para oferecer uma escuta atenta.

A seguir, apresento sugestões que convidam a refletir sobre o tema. Algumas delas têm como base o conceito de Comunicação Não Violenta*, desenvolvido por Marshall Rosemberg, mas parte do conteúdo envolve também uma visão pessoal sobre o assunto.

Saiba por que você está ali

Ao iniciar uma conversa com alguém que está numa situação difícil, tenha em mente que seu objetivo ali é oferecer a escuta – não a resolução do problema em si. Não se trata de apontar caminhos, soluções ou sair da conversa com “tudo resolvido”, mas de estar aberto para ouvir, de preferência sem julgamentos morais.

Experiências fortes como passar pela morte de um familiar podem levar tempo para serem digeridas e o caminho até a recuperação pode ser diferente para cada pessoa – não tenha a expectativa de acabar com todo o sofrimento. Apenas ofereça a escuta mais atenta que puder.

Reconheça a dor do outro como legítima

Evite, também, personalizar, minimizar ou negar o problema que está sendo exposto. Frases como “se fosse comigo, eu faria tal coisa…”; “veja pelo lado bom…” e “acho que você está sofrendo demais” acabam saindo de forma natural, mas podem afastar o autor da queixa e gerar a sensação de desconexão.

Mostrar que você vê o sofrimento do outro é um meio de criar uma conversa mais empática. Frases como “isso parece difícil mesmo” ou “estou vendo que você está sofrendo” podem ser úteis para demonstrar que você está vendo o quanto o problema está afetando o outro.

Em geral, é mais importante abrir espaço para um desabafo do que contribuir com a própria opinião. Perguntar “Como você está se sentindo com isso?” é uma boa forma de dar espaço para o outro contar o que realmente está se passando.

Cuidado com a identificação pessoal

Lembre-se que a conversa não é sobre você. Colocar-se como referência ou trazer histórias que parecem similares pode não ser de grande ajuda.

Veja esse diálogo:
– Eu estou triste porque minha tia está com câncer de mama.
– Puxa, eu tive uma vizinha que teve isso também, sofreu tanto, coitada. Morreu um mês depois do diagnóstico.

Talvez pareça tragicômico, mas esse tipo de reação é bastante comum, e, em última análise, mostra a necessidade do interlocutor em encontrar uma identificação com a dor do outro. Porém, isso diz mais sobre um modo pessoal de ver o problema do que mostra a disponibilidade de ouvir o que de fato está acontecendo com o outro.

Algumas falas mais interessantes seriam: “E como você está levando essa situação?”, “e como sua tia está hoje?” ou “me conte mais sobre essa história”.

Ofereça ajuda de forma ativa

Se estiver em condições de oferecer ajuda e esse for seu desejo sincero, é melhor fazer isso de forma ativa. Ao invés de dizer “estou aqui para o que precisar”, que é bastante vago e gera a sensação de que se trata apenas uma formalidade, indague de maneira clara o que você pode fazer. Pergunte literalmente: “O que posso fazer para ajudar você nessa situação?” ou “pode me dizer o que faria você melhorar?”.

Deixe de lado a (sua) religião

Pode ser tentador falar sobre Deus, rituais religiosos ou crenças que auxiliam você em momentos de crise. Mas antes disso, esteja ciente de que crenças religiosas são escolhas individuais. E de que, apesar de ser de grande ajuda nas superações pessoais, a fé religiosa não precisa necessariamente fazer parte do suporte emocional que você está oferecendo naquele momento.

Frases como “isso é falta de Deus” ou “você precisa ir mais à igreja” emitem juízo de valor sobre as ações do outro e não são acolhedoras. Ao invés de falar diretamente sobre sua própria fé, é preferível perguntar, por exemplo, se a pessoa quer que você a inclua em suas orações. Uma resposta positiva poderá abrir espaço para uma conversa mais focada em religião, mas esteja preparado também para ouvir que a pessoa não compartilha da sua crença religiosa. E tudo bem, você ainda poderá ajudar oferecendo uma escuta de qualidade.

Tudo bem se você não souber o que dizer

Nem sempre estamos preparados para oferecer uma palavra de consolo para alguém que está em sofrimento emocional. E é muito válido admitir isso com uma frase simples como “olha, não sei nem o que te dizer”.

Esta é mais uma forma de mostrar reconhecimento sobre a situação do outro e um jeito honesto de demonstrar que, apesar de não ter muitos recursos para auxiliar, você está ali para ouvir.

Considere os seus limites emocionais

Saiba que os esforços para ouvir o outro devem levar em conta também a sua própria saúde emocional. Cuidar do outro só é possível quando nosso autocuidado está em dia, do contrário, além de não termos condição de ajudar, ainda sairemos fragilizados dessa experiência.

Se necessário, sugira ajuda médica

Caso você perceba que se trata de uma questão de saúde mental, como um estado de depressão, por exemplo, mostre que você pode ajudar a encontrar um profissional da área de saúde. Identificar quando o outro precisa de ajuda médica é uma forma de cuidar e estar presente.

Indicações:

*A Comunicação Não Violenta é uma metodologia comunicacional desenvolvida pelo psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg nos anos 60. A CNV aborda as habilidades de falar e ouvir e busca criar uma conexão focada na compaixão.

Citando o site Na Prática.org:
“O pesquisador propõe que as respostas a estímulos comunicacionais deixem de ser automáticas e repetitivas e passem a ser mais conscientes e baseadas em percepções do momento, por meio da observação de comportamentos e fatores que tem influência sobre cada um. Por meio da escuta ativa e profunda, o método faz com que as interações ocorram com mais respeito, atenção e empatia.”

Deixe um comentário

Crie um site como este com o WordPress.com
Comece agora